15/07/2021 - Autor: Bea Chagas
No longínquo início dos anos 80, íamos de ônibus até Jardim da Penha para nos encontrar com a galera na pracinha do Adega, bar-point da época. Por “íamos”, leia-se: um bando de cabeludos despenteados, vestidos de preto, adornados com o que havia de disponível em Vitória na época, como correntes de lojas de material de construção ou de animais. Voltávamos a pé ou em um raro bacurau (ônibus da madrugada). Sentados às poucas mesas do bar ou espalhados pela praça, paquerávamos, bebíamos (cerveja, vodca e/ou gim ou tudo junto) mostrávamos os discos finalmente comprados – aham, os LPs, vulgo bolachas – e esperávamos ansiosos pelo próximo álbum a ser lançado. Época de se deliciar com o som do LED ZEPPELIN, QUEEN, KISS, AC/DC, METALLICA, IRON MAIDEN… Sem a internet, porém, eram esses encontros que nos atualizavam sobre as bandas. Imaginem, já tínhamos o segundo LP de Ozzy Osbourne, e o primeiro não havia chegado ao Espírito Santo. Rock in Rio era uma utopia uterina. Localizados?
Nossa carência de eventos musicais de rock pesado foi aliviada com a formação de bandas de muitos dos talentosos frequentadores dos arredores da Adega. Nasceram Thor, Pó de Anjo e Lordose pra Leão… Surgiram bandas que ensaiavam e se divertiam em garagens de condomínios, mesmo sem ter alcançado o sucesso público, como a Phöenyx (com os irmãos Abmir, vocal, e o carismático-disputado e muito saudoso Pedrinho). Três décadas de novas formações, grupos desfeitos, casamentos e divórcios, cortes de cabelos, filhos e escritórios, teimosos resistentes em um ramo de parco empreendedorismo, insistem nas baquetas, cordas de metais e cordas vocais. Esse é o caso da banda de Rock pesado SILENCE MEANS DEATH (“O Silêncio Significa Morte”).
Há muito tempo que a SILENCE MEANS DEATH faz parte da galeria do rock capixaba. Participou de eventos como Dia D, ARENA DE CAMBURI e ILHA EM MOVIMENTO. No cenário nacional, a banda abriu o show para o SEPULTURA, em 2006. No último dia 9, o SILENCE MEANS DEATH fez parte do casting do ROADIE CREW Online Festival, com bandas de diferentes estados no Brasil.
Internacionalmente, o SMD viveu a experiência de tocar na Alemanha, “explodindo” caixas de som no WACKEN OPEN AIR – 2009, considerado o maior festival de metal do mundo. No festival, nossos rapazes tocaram ao lado de bandas ícones, como MOTÖRHEAD, SAXON, MACHINE HEAD e TESTAMENT. Detalhe: após a apresentação, a o grupo ouviu de fãs ingleses: “Vocês são profissionais! Deveriam estar tocando no palco principal!”.
Fazer arte pela arte, mas também muito “barulho” para não ser conivente com as injustiças sociais. Essa foi uma das razões por que Dodas Bianchi (bateria) e Alex Guerra (guitarra) fundaram a SILENCE MEANS DEATH, em 1997. Atualmente, a composição da banda conta com Átila Rocha (baixo), Luiz Henrique Antunes, ou Izzy (vocal), e Emerson Mizzette (guitarra). Esses rapazes já voaram alto, chegaram à Alemanha, em 2009, e se preparam para lançar novo álbum com uma mega produção de Thiago Bianchi (ex-Shaman, agora Noturnall) já em andamento. Sinto vibrações de sucesso a caminho!
Não há silêncio algum na banda. O nome SILENCE MEANS DEATH é e referência a uma frase da canção REFUSE/ RESIST, do SEPULTURA, e foi escolhido por dois motivos, como conta Alex Guerra, o LEMMY (seria um fã do MOTÖRHEAD?), em entrevista ao site da PORANKATU: “O primeiro é que amamos música pesada e costumamos fazer bastante barulho quando tocamos. Então, pra gente, pro nosso estilo musical, precisamos desses ruídos sonoros. Música pesada, com distorção (…) não é nada muito calmo ou silencioso (risos)”. O segundo motivo reside no posicionamento. “Se você não se manifesta diante das injustiças que acontecem por aí, principalmente no nosso país atualmente, se você se cala, se você aceita… você está morto”, continua Lemmy. “Então, tem sim uma conotação social e política na nossa música, nas nossas letras, e o que pudermos fazer para contribuir para demolir barreiras, preconceitos, autoritarismo, visão velha de mundo, que já era pra ter sido banida há muito tempo… estamos dentro”!
“Se você não se manifesta diante das injustiças que acontecem por aí, principalmente no nosso país atualmente, se você se cala, se você aceita… você está morto“
Alex Guerra, o LEMMY
Dodas afirma que a princípio, é a arte pela arte. “Mas como a Arte não é desconexa da vida que nos rodeia, sempre existirá as questões da sociedade em que vivemos sendo necessário se manifestar politicamente, socialmente e no contexto humano em geral, nos posicionando de acordo com nossas crenças”.
A visão de engajamento social é partilhada por todos os membros da banda. A princípio, como a muitos jovens, Emerson Mizzette sonhava em ser um rockstar. O guitarrista explica: Sempre me quis ter uma relevância artística, não ligava para o aspecto político, achava importante o social. “Só que depois de um tempo o entendimento da realidade política me fez ver que tudo isso anda junto”.
Átila admite participar das duas vertentes: “É possível ser engajado através da arte. Na verdade, eu vejo até como uma necessidade, diante do quadro de desinformação e alienação da atualidade”.
Izzy, o mais jovem do grupo, admite que como indivíduo, vê a arte pela arte e se mantém na música pela arte. Ressalta, entretanto: “entendo a importância de engajamento social e político, e apoio”.
“É possível ser engajado através da arte. Na verdade, eu vejo até como uma necessidade, diante do quadro de desinformação e alienação da atualidade”
Átila Rocha
O álbum em pré-produção da Silence Means Death (cujo nome ainda não foi revelado ao público) será gravado no estúdio Fusão, em São Paulo, com produção assinada por Thiago Bianchi, e será lançado em 2022. O Cd constará de 10 faixas. Dodas Bianchi relata: “Algumas músicas são bem antigas na banda, e somente gravadas em algumas compilações de CD demo ou EP’s, (…) ficando de fora do nosso último álbum (Guilty as Charged). Elas tiveram atualizações de arranjos e de letra e ficaram muito mais impactantes. (…) teremos músicas novas, todas muito pesadas e cheias de sonoridades empolgantes”.
Sobre as letras, Dodas Bianchi diz que “abordam a vida cotidiana, temas políticos, religião e o caos do mundo moderno”. O baterista garante: “Serão faixas muito densas e até nervosas e acho que vão agradar aos que gostam de rock pesado, com melodias interessantes e arranjos eletrizantes”. O novo trabalho marcará a estreia do vocalista Izzy na banda, que segundo Bianchi, “vai usar o seu vocal aprimorado e poderoso para dar muita melodia e nuances às músicas com o peso de que o rock necessita”. LEMMY corrobora: “Acho que o novo álbum será mais pesado e rápido que o anterior Guilty as Charged”. O novo vocalista deu uma cara nova, estamos muito felizes com os resultados do Izzy. O vocalista, por sua vez, vaticina: “está uma porrada, tenho CERTEZA que irá surpreender as expectativas”!
Alex Guerra garante que o som será sempre pesado. Quanto às letras, o guitarrista afirma que elas irão refletir o conturbado cenário atual no Brasil: “(…) após tudo isso pelo que o mundo está passando… Pandemia, racismo, xenofobia, autoritarismo, líderes mundiais completamente insanos pregando desunião com discurso disfarçado de moralismo… Um bando de gente ainda acreditando nessas ideias, nessa propaganda… Acho que virão músicas mais soturnas nesse próximo disco”.
E o fã de Lemmy se empolga: “Outra coisa que (…) está acontecendo no processo de composição é que nossa música sempre foi muito direta, mas dessa vez está vindo mais trabalhada. Além de um vocalista novo, também adicionamos outro guitarrista à banda, como era na formação original”. Alex entende que isso conduz a um processo mais elaborado de composição. Ainda enfatiza, com humor: “E esses caras são monstros! Não só porque são feios, mas porque são também muito bons no que fazem!!! Rsrsrsrs.”
Diante do mercado e dos obstáculos para se crescer tocando rock pesado em um estado fora dos grandes circuitos, Dodas Bianchi ressalta: ”Quando vi a oportunidade de concretizar esse projeto com o Thiago Bianchi produzindo nosso próximo álbum (…), entendi que seria necessário fazer o investimento, mesmo sendo difícil a questão financeira, pois o nosso país atravessa por um período econômico complicado”. Dodas ressalta que com o lançamento desse trabalho, a banda terá um “material de qualidade e com um excelente cartão de visita, no que diz respeito à produção do disco, porque o Thiago Bianchi é um músico e produtor de renome internacional, e com isso, espero ter mais abertura no mercado musical da Europa, Estados Unidos e quem sabe até da Ásia. Teremos que trabalhar duro, mas acredito no potencial musical da banda”. Os músicos veem a internet como um grande mercado global e acreditam que basta trabalhar utilizando as ferramentas adequadas para alcançarem o que almejam. Quem faz rock pesado no Espírito Santo faz por amor. Essa é a razão pela qual almejamos outros públicos fora do país.
Dodas Bianchi – Sou músico desde meus 18 anos de idade e produtor musical desde 2005. Já exerci outras profissões. Sou casado há quase 16 anos e tenho um filho de 13 anos. Acredito em uma energia criadora que está em constante mudança/evolução. Ela move tudo que há e tudo que haverá.
Com relação ao meu instrumento (bateria), acho que minha maior influência é o John Bonham, baterista do Led Zeppelin, e o Roger Taylor, do Queen. Mas tem aquelas influências que despertaram quando formei o Silence Means Death junto com o Alexandre Guerra e outros músicos que não estão mais na banda, tais como o Igor Cavalera e outros músicos da linha thrash metal, punk rock, hardcore, industrial, e por aí vai. Bandas favoritas: Queen, Led Zeppelin, AC/DC, Sepultura, Ministry, Metallica, Deep Purple, e outras.
(Viver de música) Essa é a questão que mais afeta a trajetória da banda. Estamos em um país onde a cultura, de um modo geral, não tem a atenção que merece, seja por parte governamental, ou seja, pelo público que não recebe educação de qualidade e, portanto, não entende os mecanismos culturais como um todo. (…) fazemos música considerada underground, tocamos rock pesado e com letras em inglês, e em um estado da federação que, praticamente, ainda não tem um mercado musical que nos proporcione condições de trabalho satisfatórias para realmente nos dedicarmos à música como profissão. Aqui temos carência de tudo. Faltam espaços, equipamentos e instrumentos de qualidade com preços acessíveis e até a consciência de que os músicos trabalham e devem ser remunerados por esse trabalho. Tudo isso por falta de um mercado musical forte.
Mas aqui no Brasil nunca tivemos muita ajuda, apesar do público sempre gostar muito dos nossos shows. Mas é isso aí. Sabemos que por aqui viver de rock pesado é complicado mesmo. Aí é que entra o amor a esse tipo de música. A parte da arte pela arte, porque grana mesmo não rola… rsrsrs.
Em Vitória eu gosto de frequentar algumas praias específicas, como por exemplo, as da Ilha do Boi. Recomendo muito a Vila de Itaúnas e o Alto Caparaó.
Pelo país, gosto de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador.
Alex Guerra – Influências e bandas favoritas: Ihhh… A lista vai ser grande! Gosto muito de METAL e também de PUNK rock, mas também de blues e country music.
Mas pra citar alguns: Motörhead, Metallica, Iron Maiden, Sex Pistols, Misfits, Ramones, Ministry, Social Distortion, Pantera, Volbeat, Black Sabbath, Body Count, Johnny Cash… Acho que vou parar por aqui… rsrsrs.
Sou professor de Inglês, tenho namorada, não tenho filhos, nunca tentei voar de vassoura, mas já voei do palco várias vezes no meio do mosh pit, inclusive me esborrachando no chão em muitas delas. Sou Cristão, não gosto muito da ideia de seguir uma religião, mas gosto bastante dos ensinamentos do espiritismo!
Como points, a Rua da Lama (apesar de não ser mais como antes, é perto da minha casa e ainda tem o Cochicho da Penha pra ouvir um bom som tomando uma cerveja tranquilo) e sei lá… Qualquer lugar que tenha música boa e cerveja…. rsrsrsrs
Fora os shows de bandas que eu prestigio muito (…) sei que tem um festival de rockabilly no sul, parece que durante o carnaval, a que eu adoraria ir…
Átila Rocha – Minhas grandes influências no rock, que me fizeram despertar para ele, quando através do meu pai o conheci, foram Beatles, Rolling Stones, Secos e Molhados, Creedence, Dire Straits…
Depois (…) descobri o heavy metal a partir das bandas clássicas como Sabbath, Iron, Saxon, Motörhead… Conheci o thrash e me apaixonei também. Me aprofundei no NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal – Nova Onda do Heavy Metal Britânico) e no thrash da Bay Area da Califórnia. No instrumento, minhas principais referências são Butler, Burton, Harris, Ellefson e Dan Lilker.
Sou líder de operações logísticas, casado e pai do Achilles, de nove anos. Acredito em Deus. Difícil de viver apenas de música, por isso desisti (…). Em relação ao rock, é um pouco mais difícil, mas ainda sim, possível. Com relação ao metal, quase impossível. Espero que as coisas melhorem.
(Desejo) Expandir os horizontes da banda, de forma a termos acesso a pessoas e lugares aonde ainda não chegamos.
Espero ter um trabalho digno, e que possa superar a ótima qualidade do anterior.
(Curto) Belo Horizonte, São Paulo, o Sul do país…
Izzy – Sou apaixonado por Diamond Head, Motörhead, Led Zeppelin, mas cresci ouvindo Duran Duran, A-ha, e flashbacks diversos na rádio Antena 1!
Eu ganho a vida como um cara apaixonado demais por tudo o que faço, trabalho como vendedor, músico, e tudo o mais que a vida colocar em meu caminho!
E tenho dois olhos de tigre Tatuados no peito, para simbolizar minha determinação! Adoro expressar minhas paixões na pele (rsrsrs)! Adoro animais!
É bem difícil (viver de música), eu confesso. Mesmo eu sendo relativamente novo, tenho muito a agradecer a cena capixaba e aos envolvidos, estou há dez anos e já passei por experiências demais para dizer que cenários músicos são bem difíceis, mas no Espírito Santo, é um pouquinho mais que outros estados.
Gosto muito de frequentar o Garage Pub, em laranjeiras, um bar que me acolheu desde o meu começo. Gosto também do Correria, e dos eventos Motoclubes que rolam pelo estado. No dia a dia, sou suspeito para falar, sou adepto de um bom boteco. Para viajar dentro do estado, gosto muito de Santa Teresa, e tenho amigos em Nova Venécia e em Guarapari. Eu ainda não conheço tantos points no país como gostaria, mas desejo muito conhecer a cena de São Paulo, Rio, Curitiba, e Belo Horizonte!
Emerson Mizzette – Gosto de vários estilos, rock, blues, rap, pop e clássico barroco. Minhas principais influências são no metal mesmo, Pantera, Sepultura, Mastodon e Gojira. Eu já toquei na Alemanha, mas não foi com banda de metal em festival.
Sou operador de máquina numa siderúrgica, sou solteiro e tenho uma filha adolescente. Nos últimos anos, tornei-me agnóstico, mas vejo beleza em alguns aspectos de cada religião. É muito difícil (viver de música no Estado), ainda mais se você for ver as bandas de rock e metal.
(Como diversão) Gosto bastante de praia e da cidade de Santa Teresa.
Em 2008/09 estive em Fortaleza- CE e conhecemos um monte de gente do Brasil todo. Ainda desejo tocar em Pernambuco, Bahia, Alagoas e em todo o Sudeste.
Com a constatação de que se viver de rock pesado no Brasil é complicado, mas com os anos de estrada do SILENCE MEANS DEATH e as perspectivas da banda com o novo e empreendedor trabalho, podemos afirmar que a resiliência e o talento do grupo são feitos de metal e não se dobram facilmente. Alex revelou, sempre com sorrisos, que eles estão planejando “dominar o mundo, como sempre!”. Confiante, “Dodas avisa: É esperar para ouvir”!
Estamos esperando, mas roendo as unhas, como bons representantes da cena PESADA!
Você é fã do SILENCE MEANS DEATH? Curte rock? Tem banda? Escreva para a PORANKATU. Mande seus comentários, sugestões e agendas de shows. Vamos tocar essa cena juntos!