04/04/2025 - Autor: Kallyne Kafuri



Saúde! Um Brinde à Vida com Encontros para o Bem-Estar no Centro de Vitória

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Ao levantar um copo e brindar, a palavra que inevitavelmente ecoa entre as pessoas é “saúde!” não é mesmo? Esse simples gesto carrega consigo, para além de um simbolismo, a intenção de brindar e celebrar a vida, com votos de saúde e prosperidade. Os sentidos que me remetem, me provocam a observar a intenção de cuidar de nós e do nosso bairro. Provocada pelas postagens e interatividade do aplicativo que, na língua Tupi-Guarani expressa muito disso e que focaliza o bem comum, as belezas da vida para todas as pessoas: “Porankatu” (um app que reúne ideias, dicas e agenda cultural no Centro em na Grande Vitória). Foi após uma reunião para falar sobre o App e as potencialidades para o bairro que saí com a mente pulsando e pensei em cada copo levantado nas ruas do querido Centrim

Cada rua, cada esquina, cada praça, é um convite ao encontro, à troca e ao compartilhamento de histórias, emoções e vivências que fazem da saúde algo muito mais amplo do que um simples conceito que nos acostumamos a ver. A saúde, quando vista por essa ótica, não é apenas o que se ingere ou o que se pratica na academia. Ela se materializa nos diálogos que acontecem nas calçadas, no contato com a arte e a cultura, na convivência com os outros e na capacidade de estar no mundo com os outros, de maneira plena e integral. O Centro de Vitória, com suas ruas pulsantes e cheias de vida, é um espaço ideal para experimentar essa saúde que transcende o físico: é saúde emocional, social, cultural e espiritual. 

Mercado criativo de artesanato, arte e gastronomia “Arte Livre” que ocorre na rua Sete de Setembro, no centro de Vitória, uma vez ao mês.

A saúde como diálogo e encontro

Quando pensamos em saúde, muitas vezes nos limitamos ao cuidado individual. O que, por exemplo, tem estado muito atrelado à saúde mental ou do corpo físico. Porém, a saúde se constroi também no encontro, no abraço, no diálogo, na interação com o outro e com o mundo à nossa volta. A Praça Costa Pereira ali com o Hub e o Sesc, suas esquinas sempre com alguém que conhecemos garantindo um papo trivial, o Parque Moscoso para exercícios, idas ao Galetti, um passeio em feiras de artesanato ou ficar à toa de pernas para o ar.

Os tantos Cafés, com ou sem exposições, o teatro, o restaurante, os museus, todos esses espaços se tornam um grande cenário de encontros, nos quais as vozes das diferentes pessoas se entrelaçam e, a partir dessa interação, amplificam novas possibilidades de ser e de viver o bairro!

Não é à toa que o Centro de Vitória, com seu patrimônio histórico e sua rica vida cultural respira sua própria saúde por vezes por aparelhos! Resiste teimosamente em se fazer necessário, presente e vivo nas políticas públicas. Mesmo tão assolado, desmatado com as intenções de um ou outro, se apresenta como um palco perfeito para nossa saúde. O simples ato de caminhar pelas ruas, de conversar com alguém na praça ou de assistir a uma peça no Sônia Cabral no Sesc ou na pracinha da Igreja do Carmo é um convite para se nutrir de algo que vai além do corpo. É uma celebração de experiências compartilhadas, em que a outra pessoa – seja amiga, desconhecida, artista ou moradora – se torna uma parte fundamental do processo necessário que é o cuidado de si.

Famosa esquina da rua Sete de Setembro com a rua Maria Aguirre, com o famoso Boteco da Panela, o patrimônio cultural, arquitetônico urbano do Centro: a Escadaria da Piedade e o tradicional e amado Bar da Zilda.

Lazer como direito e saúde como construção coletiva

E se a saúde é algo que se constrói nos encontros e diálogos, ela também é uma conquista coletiva. A Constituição Brasileira em seus artigos diversas legislações, assim como a Declaração Universal dos Direitos Humanos asseguram o direito ao lazer, à cultura e ao esporte como fundamentos de uma vida plena e saudável (sugiro ler). Não se trata apenas de uma obrigação individual, mas de um direito social garantido a todas as pessoas. O lazer é um espaço de liberdade, de expressão e de (re)construção das relações sociais,  essencial para que possamos viver de maneira saudável e plena.

No entanto, muitas vezes as pessoas se vêem distantes dessas possibilidades. O receio de usufruir de algo que é direito, mas que nem sempre é percebido como tal, pode estar atrelado à noção de que o lazer é um “luxo” ou algo que se deve buscar apenas em momentos de total ociosidade. Como buscamos reafirmar aqui, a saúde – em sua totalidade – só é alcançada quando nos permitimos a viver esses momentos de lazer, de arte, de cultura e de convivência! 

A arte e a convivência como parte do bem-estar

Muito inspirada pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin (que adorava um encontro de bairro com seu círculo), podemos entender a arte, a música, o cinema e o teatro como espaços que dão o contexto necessário para que “vozes” se encontrem e estejam em discussão a nossa própria experiência de vida. Cada manifestação artística no Centro de Vitória é um convite ao diálogo com nós mesmos e com diferentes outros. A arte, seja ela visual, sonora ou cênica, nunca se dá de maneira isolada. Quem anda pelo Centrinho consegue perceber: a arte aqui conecta, se estende, se mistura com o cotidiano das pessoas e das ruas. Ela é uma linguagem viva, pulsante, que interage com a nossa saúde e bem-estar.

Da mesma forma, os encontros que acontecem nos cafés, nas praças ou nos restaurantes do centro, colocam a nossa vida no centro e nos leva a refletir sobre os momentos de brindar à saúde não apenas no gesto físico, mas uma com troca de energias, onde o corpo, a mente e o espírito se conectam com a coletividade.

Apresentação da Drag Cassandra na Casa Caipora, Centro Cultural localizado no Centro de Vitória, próximo ao Palácio Anchieta.

Saúde e o direito ao lazer: um caminho para a transformação

Afinal, por que tantas vezes hesitamos em desfrutar do lazer e da convivência no Centro de Vitória? Talvez o medo da violência (ah, o Centro de Vitória é muito perigoso! Tá! Experimenta sair a mesma hora que você sai aqui em outro bairro dito nobre na capital. Eu não saio!). Viver o Centro é ter como rotina a vida! E para vivê-la é preciso transpor as barreiras invisíveis que criamos. Barreiras que nos impedem de acessar o lazer e as tantas possibilidades do bairro. Ao fazer isso, negamos uma parte fundamental de nossa saúde. Afinal, a conversa, ou seja, a linguagem é sempre um espaço de interações, onde diferentes vozes e perspectivas se encontram e se transformam. Se falamos em saúde, lazer e em nossa vida no Centro de Vitória, podemos entender o bairro como um espaço de interações e construção coletiva de bem-estar. A saúde não se constrói apenas no isolamento do corpo, mas nas relações constantes com o mundo e com os outros.

É aqui que as políticas públicas têm um papel crucial. Elas precisam garantir, sempre, que os espaços públicos, os eventos culturais e as atividades esportivas sejam acessíveis a todas as pessoas. Esses espaços não são apenas lugares para se divertir, mas para se transformar, para se cuidar e, principalmente, para se conectar.

Brindar à vida é, portanto, um ato coletivo. No Centro de Vitória tenho vivido isto, um convite contínuo com a saúde, com o bairro, com o outro e comigo mesma. E este o dom que quero dar à minha vida e convidar a vocês: viver e compartilhar a vida em sua totalidade! Parafraseando a querida Andrea Grijó, por nós e nossa vida no Centro: Saúde! 

Autora:

Kallyne Kafuri Alves
Doutora em Educação e Professora da Educação Superior.
Observa, analisa e reflete sobre o mundo, a educação e a humanidade com atenção às artes e formação de pessoas.

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