08/07/2021 - Autor: Bea Chagas



Ouro Preto – essa rota vale ouro!

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Ouro dourado, ouro branco, ouro envelhecido, OURO PRETO. Que tesouro repousa em solo mineiro! Essa cidade de relevo montanhoso, com matas de Araucária e florestas de candeia, povoa meus sonhos de viagem. Quando eu ainda adolescia, meus pais rumaram a Minas Gerais e voltaram encantados com Ouro Preto. Ainda me lembro do brilho nos olhos de mamãe ao descrever a Gruta do Maquiné. Com o mártir da independência na lista de ídolos desde o antigo primário (atual ensino fundamental), Ouro Preto ficou na minha cabeça como um destino para ser trilhado depois de minhas peripécias na Europa, onde aportei de navio cargueiro (com porões carregados de minério de ferro) em 1985. Ainda não coloquei carvão no trem e, de Minas Gerais, conheci apenas Governador Valadares e Belo Horizonte, ambos locais rapidamente. Hoje, Dia de Ouro Preto, faço aqui a mea culpa e puxo a manivela rumo à terra das minas, pela rota aurífera com cheirinho de café.

Ouro Preto foi a primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Mundial da Humanidade, conferido pela Unesco, em 1980. É quase preciso brincar de “uni, duni, tê” para escolher entre os atrativos do município. As igrejas…é indispensável despir-se de dogmas religiosos e permitir-se adentrar nos templos. As igrejas mineiras históricas são um must. Faça um tour pelas igrejas de São Francisco de Paula, Basílica Matriz de Nossa Senhora do Pilar, Nossa Senhora do Carmo, São Francisco de Assis, Nossa Senhora do Rosário, Igreja de Santa Efigênia, e a Capela do Padre Faria. Para a apreciação de obras sacras, conheça o Museu do Oratório, o Museu de Arte Sacra de Ouro Preto e o Museu Aleijadinho, onde poderá se deslumbrar com as obras de nosso mestre escultor e entalhador Antônio Francisco Lisboa.

Cidade de Ouro Preto – Minas Gerais

Uma das mais belas grutas do mundo e considerada o berço da paleontologia brasileira, a Gruta do Maquiné serviu de abrigo para as comunidades pré-históricas.  Com aproximadamente 650 metros de galerias, a gruta apresenta pinturas rupestres e outros vestígios arqueológicos, esculturas naturais e estalactites (nunca mais me esqueci da explicação da mamãe sobre essas formações). A Gruta de Maquiné conta com sete salões iluminados e passarelas. Dessa forma, os visitantes, acompanhados por um guia local, podem se maravilhar com o percurso em segurança. É nesse esplendor no subsolo que ainda irei conhecer salões como o das Colunas, dos Lagos e das Fadas. 

Permita-me, Manoel Bandeira: “Minha gente, salvemos Ouro Preto”! A cidade colonial possui atrativos sem par. Dentre eles, o Centro Histórico, o Museu da Inconfidência e a Casa dos Contos. As opções ao ar livre incluem trilhas seculares, cachoeiras, represas e gigantesca área de mata nativa. Inclua em seu roteiro: 

●      Parque Estadual do Itacolomi
●      Represa do Custódio
●      Cachoeira das Andorinhas
●      Estrada Real
●      Cachoeira Dos Namorados

Ouro Preto também dispõe de atrativos internos para o público infantil, com destaque para o Museu da Inconfidência e o Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas/UFOP. Para os estudantes, a terra do Sineiro do Carmo oferece hospedagens e as famosas repúblicas. Era após uma caminhada no ladeiro, ou sob as “telhas amoldadas na colônia (…), nos telhados tomados de musgo” (Antonio Bezerra Neto) que minha amiga Graça Andreatta admirava o luar ou a tempestade, vinda de um dos dois morros de Ouro Preto, entre os bairros São Sebastião e Bauxita. Já em Vitória, ela poetava, jurando ver a rocha brilhar no mar de Camburi. Mas o filho, geólogo, garantiu ser um ciclone a se formar. Lembranças tão carregadas de mineiridades! 

ESTRADA VITÓRIA-MINAS

Piuí! Piuí! Ah, o trem! Esse “símbolo da mineiridade” foi homenageado por escritores e pintores, retratados em telenovelas e filmes, e tornou-se um dos ícones do povo mineiro. Era o antigo principal meio de transporte de passageiros de Minas Gerais.

Foi em 1852 que se iniciou a história das locomotivas no Brasil. A ferrovia mais importante entre os estados mineiro e capixaba é a Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), desde 1997, sob concessão da Companhia Vale. Data de 1906 a construção dos primeiros vagões da empresa.

A primeira estação de passageiros na Grande Vitória é a Pedro Nolasco, em Cariacica. A relevância dessa estrada reside na ligação de Minas Gerais e o Porto de Tubarão, para escoamento de vários minerais, especialmente de minério de ferro, principal produto de exportação do Espírito Santo, pelos portos de Tubarão e de Praia Mole.

Trecho do trajeto da ferrovia Vitória – Minas

Mas não só vagões com carvão e minerais cruzam essa via férrea. Há trens de passageiros que transportam curiosos viajantes em seus carros. Todos os dias, às 7horas, um trem parte de Cariacica, na região metropolitana de Vitória, Espírito Santo, e chega a Belo Horizonte, Minas Gerais, por volta de 20h10; no sentido inverso, um trem parte da capital mineira às 7h30 e encerra a viagem às 20h30. Há, também, um trem adicional que faz o percurso entre Itabira e Nova Era, ambas em Minas Gerais”.

Ao contrário da Europa, onde a malha ferroviária abarca a grande maioria das viagens e traslados, no Brasil, ainda há pessoas que nunca passearam sobre os trilhos. Aproveite a motivação e agende uma viagem de trem para a capital mineira! Existe uma linha que conecta Ouro Preto e Mariana.  O trajeto, de 18Km, tem um diferencial cultural, quase uma viagem no tempo, uma vez que os carros mantêm o estilo original de 1833.


 ESSA ROTA VALE OURO! 

“Com certeza uma [rota] portuguesa”! Foi. Atualmente, a rota do ouro consiste em um panorâmico passeio, que abrange as cidades de  Diamantina, Serro, Sabará, Mariana (onde se encontra o maior órgão do país) e Ouro Preto, Congonhas do Campo, Tiradentes e São João del Rei.

A rota do ouro pode ser percorrida pela “Estrada Real”, aberta pela Coroa Portuguesa  como caminho para unir o interior de Minas Gerais – região de minas e pedras preciosas – ao litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo. A Estrada Real é composta por quatro caminhos, a saber: o Velho, o Novo, o dos Diamantes e o Sabarabuçu. De Diamantina até Tiradentes, o percurso tem 500Km.

A Rota do Ouro é rica em ruas íngrimes, edifícios históricos, trilhas e cachoeiras repleta de trilhas, cachoeiras, ladeiras, casarões e igrejas edificadas ainda no século XVIII, então ápice do Ciclo do Ouro.

Ladeiras e Casarões de Ouro Preto – MG

Quem passar pela Estrada Real poderá receber um “passaporte” a ser “carimbado” e um certificado do trecho percorrido. O “preço” do documento de itinerário que inclui cidade de arquitetura rococó é a doação de 1Kg de alimento. Uma forma lúdica e altruísta de estimular o turismo histórico pelos trilhos. 

Já com seu passaporte… 

Para o turista que, encantado, comprou logo uma passagem para a terra de belezas barrocas, lembramos que com o clima  tropical de altitude, típico de Ouro Preto,  podem ocorrer geadas ocasionais nos meses de junho e julho.

Muna-se de echarpes e gorros e aqueça-se correndo por pontes, matas e ladeiras ouropretenses! Viaje na história e saboreie bom café, coado na hora, com um prato típico, preparado em panelas de pedras charmosamente aquecidas no fogão à lenha! Na volta, conte-nos tudo!

Um Mineiro Deslumbrado
(Luiz Sérgio Quarto)

Certo turista mineiro,
De Congonhas, seu aconchego,
De Aleijadinho, seu apego,
Pelas praias do Espírito Santo
Se confessa deslumbrado
Por tanto mar tanta praia…
Que espanto!
Guarapari, que encanto!
Mais que deslumbrado,
Diante do Convento da Penha fica
Esse bairrista mineiro
Lamentando por não constar
Da cultura barroca de Minas,
Esse patrimônio vilavelhense
Que de orgulho enche o capixaba
Devoto de Nossa Senhora,
Que lá do alto do seu rochedo
Abençoa toda Grande Vitória.
 
Por mais que curta a arte:
São João Del Rei,
Ouro Preto, Tiradentes…
O tal bairrista mineiro
Lamenta não poder contar
No seu cotidiano BH,
Com a brisa faceira,
Com o marulho das ondas do mar.

INDESCRITÍVEL
(Graça Andreatta)

Lá, no alto da montanha
No bairro São Sebastião
Olhava os raios que caiam
E se espatifavam no outro monte
No bairro Bauxita, então.

Fenômeno indescritível:
De um lado, a lua cheia
Linda, redonda mas de cara feia
Porque lá bem longe,
Seu grande amor, o Trovão
Mandava raios sobre
Outra rua, outra gente,
Outro chão.

Ela caminhou sob o luar
Desceu o monte lentamente
E mais lento ainda
Começou a caminhar
Com toda a liberdade
Gotas escorrendo por sua face
Juntando as lágrimas
Cuja dor não há quem passe,
Sem emoção
De ver se abraçando,
A lua cheia de uma montanha
Ao encontro da tempestade
Dos raios, do Trovão.

Acredite, se quiser
Mas quando tenho saudade
De minha querida Ouro Preto
Não penso só nas amizades
Mas também vem-me à mente
Essa força infalível
Que provoca ternura e temor
A lua cheia correndo o céu
Ao encontro da tempestade,
Ao encontro de seu amor.
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