28/06/2021 - Autor: Flávio Trevezani



Orgulho LGBTQIA+: do preto-e-branco ao mundo colorido!

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Em junho é comemorado, atualmente, o mês do Orgulho Gay, ou no caso de forma mais abrangente, o mês do orgulho LGBTQIA+. Ficaria impossível falar de tudo em um único artigo, por isso dividimos esse tema amplo em dois. Este e “Arte LGBTQIA+: O brilho além da purpurina”. Leia ambos e entenda esse universo fantástico.

Antes de começarmos a lançar nossas purpurinas de orgulho e de tudo que a classe e o movimento representam de forma positiva, artística e colorida, precisamos, primeiro, abordar algumas questões um tanto sombrias, mas muito reais.

Poderíamos falar que se foi o tempo em que ser gay era sentença de ser condenado à morte ou viver à margem da sociedade. Infelizmente, porém, não podemos dizer isso com tanto conforto. Sim, a classe conquistou espaço, direitos e até a admiração de quem não pertence ao grupo, e nunca ocupou tanto os holofotes como agora, mas ainda é uma realidade se deparar ou ouvir de alguém o velho diálogo:

Discriminação na família é considerada uma das mais dolorosa para jovens LGBTQIA+

Será? 

Pois é! Ainda temos jovens sendo expulsos de casa por serem pertencentes a essa classe. Ainda há quem veja a homossexualidade como doença. Continuamos sabendo constantemente de pessoas que sofrem homofobia e são agredidas, perseguidas, demitidas, rejeitadas e até mortas, simplesmente por serem o que são. Somos o país que mais mata transexuais no mundo por doze anos consecutivos. Não podemos negar que comparado a países extremistas, que criminalizam a sexualidade diferente da heterossexualidade e chegam a condenar à prisão ou até a morte, como é o caso de Arábia Saudita, do Irã, Iêmen, Sudão, da Nigéria, da Somália, da Mauritânia, dos Emirados Árabes Unidos, do Catar, Paquistão e Afeganistão, somos bem melhores.

Mas recentemente, a visão e posicionamento político de alguns representantes, incluindo o posto mais elevado do país, resolveram desmontar o castelo de pedras que o grupo LGBTQIA+ andou construindo com a luta pelos seus direitos. Voltou à tona de forma forte e nítida a ridicularização e o preconceito contra o diferente. Reabriu-se a discussão, que parecia se encaminhar ao encerramento possível com mais algum tempo, sobre a sexualidade ser algo errado ou posição política. Com isso, todos que tinham seus monstrinhos da homofobia presos e talvez quase mortos por inanição, voltaram a ser soltos e a ganhar força mais uma vez.

Ser quem você é, amar quem você deseja amar não deveria ser errado, uma vez que ambos ou todos envolvidos têm consciência do que estão fazendo. Mas ainda é condenável para uma considerável parcela. A luta ainda não chegou ao fim e parece que está meio longe de acabar.

Início da luta

Em 1969, na madrugada do dia 28 de junho, em um bar chamado Stonewall Inn, em Nova York, no bairro do Greenwich Village, um grupo de pessoas pertencentes à classe LGBTS resolveu se rebelar contra a perseguição e humilhação realizada pela polícia estados-unidenses. Esse levante é visto como o ato recente contra a perseguição e descriminação lgbtfóbica mais importante e marcante da atualidade.

Parada do orgulho LGBTQIA+
As paradas gays pelo mundo são as maiores manifestações do Orgulho LGBTQIA+.

O Dia internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado dia 28 de junho, nasceu em homenagem a essa revolta, quando gays, lésbicas, travestis, transexuais e simpatizantes se juntaram contra a perseguição e repressão. No Brasil, a primeira Parada Gay ocorreu em São Paulo, em 1997.

Homotransfobia: aversão e medo ou preconceito?

Acredito que para muitos, aprendemos que fobia se trata de um medo irracional e exagerado de algo. Medo de altura, medo de aranhas, medo de cachorro, dentre tantos outros. Se você faz parte da classe LGBTQIA +, já deve ter ouvido uma pequena discussão sobre: “seria fobia mesmo o termo correto? ”. O termo homofobia, significa aversão, repulsa ou, no caso, preconceito contra a homossexualidade e/ou o homossexual. O termo foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos na década de 70 e nos anos 90 se difundiu pelo mundo. O termo homofobia dá a entender que tudo que é diferente de um casal heteronormativo cisgênero seja homofobia. Mas saiba que existem outras formas de preconceitos que muitas vezes até aceitam o homem homossexual másculo e “discreto”, mas não o afeminado, a mulher homossexual, a pessoa transgênero, entre outros. Podendo ocorrer esse preconceito dentro da própria classe LGBTQIA +.

Violência LGBTQIA+ mata
237 LGBT+ morreram vítimas da homotransfobia no Brasil em 2020 (fonte: Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil)

Voltando ao uso da “fobia” para representar o preconceito contra a homossexualidade, há teóricos que discutem se o termo usado nesse contexto, de preconceito, se aplica corretamente. Sabemos que o medo nos leva a atitudes impensadas, como fugir, gritar ou reagir. Mas esse seria o caso? Há quem acredite que sim, em partes. No caso de muitos homofóbicos, o medo vai além da existência de outro indivíduo diferente, mas sim, da sua forma de ver, sentir e até cogitar pertencer a esse meio ou ter alguém próximo pertencendo e tendo de lidar com esse fato. Daí reações agressivas e/ou impulsivas podem surgir. Mas apoiar-se no fator fobia é justificar que a pessoa não controla essa aversão e logo, não faz por mal, mas por um medo maior que sua racionalidade.

Sabemos que o preconceito, na grande maioria das vezes, é racional e consciente. Talvez embasado por ignorância ou falta de compreensão, mas não importa a forma como foi denominado o ato de discriminar quem pertence ou demonstra pertencer a essa comunidade. Importa de fato saber que há preconceito e ele pode matar, e que devemos trabalhar socialmente para que, irracional ou não, esse substantivo segregador não exista mais de forma alguma. Nem essa e nenhuma outra forma de preconceito.

LGBTQIA+ o quê?

Um grande paradigma começa exatamente aí, na sigla. Nascido nos primórdios, nem tão longínquos assim, de 1994, criou-se a denominação através das siglas para representar toda comunidade. Sigla essa que já foi denominada GLS (Gays, Lésbicas e Simpatizantes) e foi evoluindo com o passar do tempo, ganhando novas letras e representando melhor os outros membros da classe. De GLS, a sigla aumentou para GLBT, depois LGBT, LGBTS, LGBTT2QQIAAP e a forma atual oficialmente difundida e usada para abordar a comunidade é a LGBTQIA+.

Em meio à comunidade ou a alguns “simpatizantes”, tem sempre surgido a discussão em tom humorado, mas descontente, de que a sigla está ficando grande demais, que “LGBT+” já abrangia o grupo perfeitamente. E aí entramos no aspecto de que a sigla é para tornar a denominação da comunidade inclusiva. Logo, concentrar-se em alguns grupos ou nos mais populares ou volumosos, seria talvez um ato de discriminação com as minorias da própria minoria? 

Confesso que eu, quem vos escreve, levei um tempo para conseguir pronunciar LGBTQIA+ com fluidez, mas garanto, em menos de um dia o termo já estava simples e fluindo como se sempre tivesse se chamado assim. Mas a pergunta importante é: você sabe o que significa cada letra dessas?

A sigla usada atualmente reúne diferentes representantes da comunidade, onde a primeira letra de cada grupo juntas formam a atual sigla, que seriam:

Rótulos e classificações LGBTQIA+

Agora, partindo para dentro da comunidade, se acha que a sigla ficou confusa e longa, nem imagina quantas classificações internas extraoficiais existem dentro da comunidade mais colorida que a dos unicórnios, flores e camaleões juntos. 

Se você associa automaticamente o termo gay a uma figura caricata de um homem afeminado cheio de trejeitos, saiba que esse é somente uma das centenas de tipos de personalidade comportamental replicada, assim, como ocorre em qualquer outro meio ou sociedade.

diversidade da comunidade LGBTQIA+
Não é atoa que a comunidade LGBTQIA+ é representada por cores, pois ela é amplamente diversa.

Enrustidos, fora do meio, daddys, ursos, pocs, caminhoneiras, sapatilhas, femininas, barbies, mariconas, cafuçus, marvans, trava de concurso, sapatão chilli beans, queens, Drags

Olha, se formos começar a falar como as YAGs (outra forma recente de se referir aos gays, que nada mais é que a palavra gay ao contrário) ou LGBTecxs (termo mais abrangente e inclusivo para tratar dos membros da comunidade de forma mais leve e divertida) se “tribalizam” ou rotulam, você ficaria horas aqui lendo! Por isso, já fica a promessa de tentar abordar todas as tribos LGBTQIA+ em um artigo bem-humorado e respeitoso sobre o assunto.

A Porankatu é plural

A Porankatu é uma idealização minha, Flávio, e do meu “conge”, Cledson Wagner, com a finalidade de democratizar a diversão e o lazer para todos os perfis, idades, regiões e classes sociais. Citando um trecho fantástico de nosso branding book, realizado pela empresa Balaio Design + Estratégia:

“Sendo brasileiros, como não sermos alegres, criativos e inspiradores? A diversão, que é sinônimo de Brasil, é também nossa oferta, receita e, acima de tudo, nossa essência. Mas queremos ousar e ir além dos estereótipos, valorizando verdadeiramente as diferenças. Se nosso país é diverso, seremos, então, plurais, para romper paradigmas e, na medida do possível, atender às individualidades.

Acreditamos que nelas residem as emoções mais intensas.

Seremos, então, cada dia mais inclusivos. Nascemos da oportunidade de ampliar, descomplicar e democratizar o acesso à diversão, porque nela enxergamos um direito fundamental a todos”.

Branding Book, Porankatu
Fundadores da Porankatu
Flávio Trevezani e Cledson Wagner Souto, fundadores da Porankatu, junto aos seus três gatinhos (Fajuto, Feijão e Fubica).

Esse trecho define bem a nossa essência. Eu, como Gay, acima do peso, empreendedor, amante de animais e “pai de pet” de três gatinhos resgatados, de origem interiorana de um estado pouco visado no país, que é o Espírito Santo; filho de professora e mãe solo, não conseguiria tentar construir algo que não pudesse impactar o mundo de alguma forma. Não, não estamos falando aqui de ação social ou nobreza autodeclarada, estamos falando em fazer o que quer que seja, da melhor forma, sem prejudicar ninguém e, se possível, ajudando o máximo.

Que os holofotes sobre essa conscientização não se apaguem no dia trinta deste mês e que, em um futuro breve, toda forma de preconceito seja apenas um capítulo obscuro, marcado na história da humanidade. Viva toda diferença!

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