27/07/2021 - Autor: Flávio Trevezani
Dia 27 de julho é comemorado o dia do motociclista, por isso, bora cair na estrada sobre duas rodas, nem que seja através dessa leitura, e ficar mais por dentro desse universo do motociclismo brasileiro.
Seja “trampando” ou curtindo a paisagem numa viagem sobre duas rodas, o motociclismo é, sem duvidas, uma paixão mundial. E para o brasileiro, é um meio de ganha-pão já há algumas décadas. Motoboys, entregadores de fastfood, mototaxistas, pilotos profissionais, instrutores de moto. O que seria de muitos setores sem esses caras?
E para muitos, vai além do ganha-pão. Ao fim do expediente, a maioria dos profissionais quer se ver livre e longe do seu ambiente e ferramenta de trabalho para poder finalmente relaxar. Parece que para o motociclista, o momento de folga é a hora de fazer a “motoca” se valer.
Segundo estudos dos fabricantes, hoje no Brasil existem mais de 28 milhões de motocicletas rodando desde rodovias até as estradas rurais por esse Brasilzão. Existe sim um alto percentual de pessoas que necessita desse veículo para se locomover a grandes distâncias, como ocorre em regiões rurais e de difícil acesso. Como já falado, existem ainda aqueles que ganham o pão de cada dia pilotando o pangaré motorizado. E existem também aqueles que são motolovers ou motoloucos, se preferir, usando os “terminhos” que caem na graça da internet.
Graças a Harley Davidson, a imagem de selvagem, aventureiro e liberdade foi criada associada a motos e motociclistas. A famosa marca de motocicletas pegou a impressão social sobre as gangues de motoqueiros americanas e explorou muito bem. Esses grupos possuíam uma imagem exclusivamente distorcida que associava o motociclista a um marginal sobre duas rodas. Sim, muitos poderiam ser, mas essa não era a única verdade. A Harley Davidson conseguiu trabalhar essa impressão e levou para outro viés. De rebeldes sem causa a rebeldes com causa.
Mas é claro que junto à popularização e estilização da paixão por motos, também nasceu a imagem do homem comum com crise de meia idade. É, os filmes e séries de tv americanas adoram abordar o fato de que um homem bem sucedido quando chega aos “enta”, acaba buscando uma motocicleta caprichada para lhe dar a sensação de juventude, adrenalina, aventura e liberdade. E seja isso um mito de Hollywood ou uma verdade, temos de concordar que é uma ótima maneira de envelhecer. Muito talvez, uma maneira bem mais simples e realizável do que trocar de companhia (esposa ou marido) para se sentir jovem e vivo(a) de novo. Fica nossa dica!
Existem muitos fatores que podem justificar o porquê da popularização desse veículo de duas rodas: valor de aquisição, manutenção, consumo de combustível, facilidade de estacionar, maior liberdade de direção no trânsito, maior agilidade, tamanho (ocupa menos espaço que um carro)… Xi! Se formos ficar listando os benefícios de uma moto, poderíamos ocupar mais linhas. Tudo bem que existem as desvantagens como a chuva, o acidente que pode ser mais grave quando ocorre com o motociclista, o risco de roubo do veículo de certa forma, mais “fácil”, entre vários outros. Mas vamos focar na paixão aqui, dessa vez.
E falando de paixão, se você começar a olhar atentamente, alguns modelos de motos não são tão mais baratas e acessíveis quanto alguns carros, por exemplo. Logo, a justificativa de ser um veículo mais acessível deixa de prevalecer. Mas quando se chega nesse ponto, a de pagar um valor maior que de um carro popular por uma motocicleta, meus amigos, temos algo a informar: você já foi picado pelo bichinho da velocidade sobre duas rodas.
Para leigos, moto é moto, certo? Nã-nãni-nanão! Motos variam mais que apenas de marcas, variam de modelos, potência, cilindradas e muito mais. Vamos aprender ao menos sobre as características básicas das motos, para que na próxima vez que conversarmos com alguém sobre o assunto, não fiquemos completamente perdidos.
Engenheiros e mecânicos, não nos processem, mas a tentativa a seguir é uma forma de traduzir de maneira simples a mágica das motos para quem não entende muita coisa. Caso você seja um desses “alguéns” que não entende absolutamente nada de mecânica de veículos ou motos, relaxa e bora ler o trecho a seguir.
Cilindradas são, de maneira bem simples, como os batimentos cardíacos do veículo. É a capacidade, medida em centímetro cúbico (cm³), de litros de combustível e ar que cabem no motor do veículo. É nesse “batimento” que o combustível vira energia e movimenta a máquina na estrada. Você já deve ter ouvido falar em pistão, cilindro e tudo mais. Aí, está a mágica da combustão – se ficou com duvida, clica aqui que você vai entender bem melhor com esse vídeo do YouTube que explica como funciona um motor de combustão.
Então no caso, cada cilindrada é como se fosse um batimento cardíaco na moto. O número de cilindradas de uma moto são relativas a quantidade de cilindradas por minuto. Mas isso por si só não pode ser considerado como o fator que gera a alta velocidade. Depende também de outros fatores, como especialmente a potência (força do motor) e o torque (digamos que o fôlego da moto). E cada modelo de moto varia nessa composição e em outros aspectos.
Das populares streets às cinematográficas choppers ou as desejadas esportivas. Vamos pincelar rapidamente sobre os tipos de moto que a galera anda pilotando por aí.
Street – Modelo mais popular e conhecido na mente da população. Talvez a forma de melhor exemplificar elas seja falando um modelo bem popular, as CGs 150cc da marca Honda. Claro que existem também as Yamaha, entre outras marcas e modelos como exemplo. Mas um informação válida de se saber sobre as motos modelo street é que elas variam entre 100 e 250 cilindradas, geralmente.
Scooter – Exemplificando de forma bem atual, ela é o modelo da desejada “vespa” do filme Luca, da Disney, lançado recentemente. São motocicletas que não possuem embreagem e pedal de câmbio. Consideradas mais fáceis de pilotar, por essas características. São ideais para se andar em perímetros curtos e urbanos, apesar de já termos visto corajosos viajando nelas (cuidado crianças e boa viagem).
Cub – A Street se relacionou com a Scooter e teve um filho. Resumidamente, é isso. Um misto entre uma moto com uma Scooter, que apesar de não ter a manete de embreagem, elas possuem câmbio semiautomático e as marchas ainda precisam ser passadas manualmente. A Biz da marca Honda é um exemplo de Cub, por mais que ela pareça mais com o lado da família da scooter, ela tem o espírito das streets.
Custom – Não confunda, pelo amor do motoqueiro fantasma, Custom com Chopper. Apesar de serem parecidas em alguns aspectos, as Custom têm os garfos (a parte que une o guidão à roda) mais curtos. Elas podem ir de 500 a 1200 cilindradas em média e são bem mais voltadas ao design e conforto do que para a velocidade. “Boaças” para quem quer pegar a estrada de moto.
Chopper – Essas sim são aquelas “famosinhas” das gangues de motoqueiros rebeldes de filmes de beira de estrada estadunidenses. As Choppers possuem os garfos (do guidão até as rodas, lembra?) longos e tem esse aspecto rebelde e estiloso.
Naked – Pra quem não sabe, naked em inglês é “nu”, ou nesse caso, pelada, pelada, nua com a roda no motor (Não… Esquece isso! rs). Mas sim, Naked são motos que não possuem carenagem (aquela “capa” que cobre o motor das esportivas, por exemplo). Isso faz delas mais leves e ótimas de pilotar em centro urbanos.
Off-road – Essas são as crossfiteiras das motos. Não se apegando muito a comparação, elas são motos para saltos que vemos em competições. São meio magrelas no aspecto, mas são potentes para trilhas e saliências de percurso.
Big Trail – Lembra do relacionamento entre a Street e a Scooter? Aqui a Off-road teve um filho com uma moto urbana. Feita tanto para asfalto quanto para estrada e obstáculos mais leves. Para algumas pessoas vai ficar mais fácil se eu falar que a XLR ou a Tornado da Honda é um exemplo de Trail.
Esportivas – Kawasaki ninja verde limão. Meio que resumimos para quem não entende, rs. Brincadeira… mas apesar de ser um exemplo, as esportivas são sonho de consumo de muitos e uma característica marcante nelas é exatamente a carenagem (essa armadura que cobre ela quase toda), que servem tanto para proteger a estrutura de quedas em competições, quanto ajudar na aerodinâmica em alta velocidade e claro, deixar elas “bonitonas” pra dar ainda mais vontade de se ter uma. Geralmente começam nas 600 cilindradas, mas recentemente surgiram as de 250cc e 300cc, como a famosa verdinha citada ali no início.
Touring – Imagine se uma Chopper ou uma Custom virassem mochileiras? Ilustrativamente acho que isso vai te ajudar a imaginar elas. As Tourings são motos robustas e de respeito na estrada. Possuem compartimentos para acomodar bagagem acoplada nelas ou passíveis de se acoplar. Possuem altas cilindradas e são consideradas as mais ideais para se pegar estradas em longas distâncias.
E o segundo sintoma para os mordidos pelo bichinho do motociclismo é se associar a um moto clube. Moto clubes são clubes (Não! Jura?) onde pessoas com um gosto enorme em comum por motociclismo se reúnem. De moto clube para moto clube, variam as regras e benefícios, mas resumidamente, é uma família de loucos por motos, semelhante a torcidas organizadas com futebol ou confrarias com qualquer que seja o assunto, por exemplo.
No mundo existem incontáveis moto clubes, no Brasil, baseado no site revistamotoclube.com, o número supera quatro mil. Alguns são famosos no universo do motociclismo como os Abutre’s Moto Clube, o maior do país fundado em São Paulo a 31 anos, com filiais fora do país. Já o Moto Clube de Campos é considerado um dos mais antigos do país ainda na ativa. Fica na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. E claro, os Hell Angels Motorcycle Club, com filiais em todos os cantos e continentes, é provavelmente o moto clube mais famosos dentre todos.
E chegando ao território estadual do Espírito Santo, onde estamos sediados, hoje têm registrados 75 moto clubes. Quer saber mais sobre os moto clubes capixabas e se existe um aí na sua cidade ou região? Então acesse o link do site Revista Moto Clube já citado e dê uma pesquisada.
E ninguém melhor do que um motociclista para falar do porque pessoas se apaixonam por esse veículo de duas rodas que atingem altas velocidades e geram essa tão falada sensação de liberdade. Num bate papo rápido, conversamos com dois apaixonados por motos: Eduardo Matos, 44 anos, Advogado, um paulista em terras capixabas, e Elielson Porto, 36 anos, também Advogado, capixaba de Sooretama/Linhares.
Para Eduardo, “a pessoa já nasce com o espírito de libertação; de, em dados momentos, querer/poder se conectar com o mundo sem a loucura do cotidiano moderno – só ele e a natureza. É pura contemplação mesmo.
Para alcançar isso e por não ter asas para voar como os pássaros, utilizo uma motocicleta, que é o mais próximo desse ‘vôo’. É sentir o vento no rosto mesmo!
A motocicleta e uma estrada é tudo que o motociclista precisa para ‘voar’.
Uni-se a isso uma filosofia de vida, encontrar pessoas com a mesma paixão, programar encontros e viagens (longas e/ou curtas), festejar, conhecer coisas, lugares e pessoas diferentes, fazer novas amizades e enriquecer culturalmente também. Por isso o símbolo da caveira estampado na roupa do motociclista: enxergamos as pessoas por dentro, não pelo tom de pele, orientação sexual, aparência, status social…
Ser motociclista é gostar da liberdade, desenrolar o tapete de asfalto, sentir o vento no rosto, conhecer pessoas e contemplar o mundo em toda a sua inocência e sinceridade que ele nos devolve.
…and Rock N Roll, baby!”
Já Elielson diz: “Primeiramente, falar em viajar de moto, a palavra que vem à mente é liberdade. O fato de você estar na moto, o vento no rosto, sentir o deslocamento, seja na estrada ou na cidade, gera uma sensação de liberdade muito grande.
Outro fator que encanta e apaixona é o fato de que quando você viaja de moto, você não está vendo a paisagem pela janela. Você faz parte da paisagem. A moto te permite parar onde você quiser, fazer o que você quiser nesse percurso com mais tranquilidade.
E olhando pelo lado do perigo, que muitos veem no ato de pilotar uma motocicleta, para os amantes de adrenalina, isso torna o ato mais interessante. Pelo fato de você está um passo mais próximo da morte, de certa forma, em relação a carros, você dá mais valor à vida.
Por ter uma filha, ao pilotar uma moto e considerando o perigo maior que possa existir em relação a veículos fechados, redobro ainda mais a atenção e cuidados. Toda vez que monto em uma moto, eu penso que posso não ver mais ela (minha filha), e eu não quero isso. Mas mesmo com o risco e perigo, andar na moto me faz sentir mais vivo!
E vamos ser honestos, os custos também compensam. Encher o tanque de uma moto, sei lá, é 20% do que seria encher o tanque de um carro e você vai mais longe, gastando muito pouco. Eu só vejo vantagens.
A única desvantagem da moto no Brasil, são os riscos. Os riscos de acidente, que são muito altos, mas ocorrem por imprudência principalmente, e um risco adicional, que é o roubo. Se você tiver uma moto visada para roubo, você está enrolado. Você não pode ir em determinados lugares com ela. Tem que ter um seguro, pelo menos.”
E para completar, Elielson tem um canal lá no YouTube sobre viagens de moto e dicas sobre produtos automobilísticos. Se ficou curioso clica aqui e dê uma olhada.
Pois é, eu (que vos escrevo) como um não praticante de pilotagem de motociclismo a bastante tempo, confesso que senti reavivar o meu desejo de ter minha montaria metalizada movida a base de cilindradas também, isso sem precisar ser Advogado (rs).
E sim! Eu sei que faltou falar de assuntos como a rixa entre motoristas x motociclistas; do porque falar “motoqueiro” está errado, tratando-se de motociclismo; dos riscos e dicas de segurança, com vantagens e desvantagens em detalhes; sobre as mulheres e o motociclismo, porque sim, existem muitas mulheres apaixonadas pelas duas rodas; de como essas figuras vinculadas a barbudões de jaqueta de couro mal encarados e rebeldes respeitam as diferenças de forma tão bacana. Mas essas vão ficar para uma outra oportunidade.
E aí, você é apaixonado por motos? Fale conosco nos nossos canais oficiais e conte sua história. Quem sabe ela sai aqui no nosso site, numa próxima matéria? Uma boa viagem a todos sobre duas rodas!