11/06/2021 - Autor: Bea Chagas
“Eu me amo! Eu me amo! Não posso mais viver sem mim”! Esse trecho de “Eu me amo” (Ultraje a, 1985) é perfeito para você ter em mente hoje, Dia dos Namorados. Parece narcisismo? Pois não é. Trata-se de autoestima e uma ótima para quem não foi tocado pelo Cupido ou para aqueles que o anjinho do amor vive errando a flecha. Não ter um par em dia de arrulhos¹ apaixonados não deve deprimir ninguém, uma vez que estar sozinho não significa estar solitário.
Se Eros ainda não o presenteou com a alma gêmea, veja outro motivo para não se entristecer: o Dia dos Namorados no Brasil é comemorado desde 1948. Ah, o amor! Amor? No, no, no! O ensejo para estipular essa foi exclusivamente comercial, para alavancar as vendas em baixas temporadas. A ideia partiu do publicitário João Doria, pai do atual governador de São Paulo, João Doria Jr.
O equivalente da data nos Estados Unidos e na Europa é o “Valentine’s Day” (Dia de São Valentim), comemorado em 14 de fevereiro. São Valentim foi um padre condenado à morte após desafiar o imperador Claudius, no século III, celebrando casamentos de casais apaixonados, após decreto que proibia a união. A celebração da data teve início em 496, mas ainda se cogita se sua origem foi pagã ou cristã. O comércio ocidental começou a lucrar com a data a partir do século XVIII.
A Globalização e, mais atualmente, a pandemia de Covid-19 acarretaram um ônus extra à sociedade contemporânea: o sentimento de solidão. O isolamento e o distanciamento social, acrescidos do já viciante mundo digital, trouxeram também uma grande onda de retraimento e carência afetiva, especialmente em datas comemorativas.
No campo do amor, as pessoas sem relacionamento romântico tendem a se sentir duplamente solitárias. No entanto, estar sozinho não é o mesmo que estar solitário. Solidão não é o mesmo que solitude. São duas coisas distintas. A solitude é encontrar-se desacompanhado, mesmo sentindo-se bem; a solidão remete ao isolamento, ao vazio existencial, ao distanciamento. Trata-se do pesar da falta de conexão, de identificação. Essa comoção pode ocorrer mesmo quando há alguém “pra chamar de seu”, ali ao seu lado – uma solidão que fere mais profundamente.
Você é uma pessoa sozinha ou solitária? É importante saber distinguir entre essas emoções e buscar lidar com as situações que impulsionam a relação de dependência com outras pessoas. A experiência da solitude – mesmo esporádica -, pode ser bastante positiva em nossas vidas. Passar algum tempo “sozinho” pode ser uma escolha! Independentemente de ser voluntário ou não, aproveite o momento para se reconhecer e adquirir maturidade emocional. Corra de pensamentos de autopiedade, como “ninguém me ama” ou “outro ano sem um amor” (sim, darling, mesmo que já faça “bodas se des-namoro”). Essa atitude, certamente, trará resultados satisfatórios, como o auto-enamoramento. “Enamorar é redescobrir a si mesmo” (autor desconhecido).
Na matéria da última quinta, “Tipos de relacionamento: as muitas formas de se amar”, vimos que os relacionamentos não se restringem a namoros e a pares heterossexuais. Então, no dia 12 de junho, além dos namorados, casais de vários modelos e configurações celebram a data: casados, noivos, amantes, “ficantes”, crushings, hétero, homo ou poliafetivos. Mas o que significa “namorar”?
Namorar significa manter uma relação afetiva entre pessoas que desejam estar juntas, com comprometimento social, porém, sem vínculo perante a lei civil ou religiosa. Namorados são parceiros, companheiros.
Amores que vêm, amores que vão, amores longe, mas bem pertinhos do coração. Os romances secretos são como chocolate: doces ou amargos, puros ou recheados de forte licor. No Dia dos Namorados, os casais que se encontram furtivamente celebram a data, unidos, ou padecem da solidão das relações nas sombras.
Um relacionamento proibido, à distância, silencioso, por atração, diversão ou realmente amor. Romances vivos e vibrantes entre paredes e sob vigilância, calidamente subentendidos, que nos levam ao universo ambíguo do “amar sem poder ter” mas que limita a solidão quando o arroubo supera o escasso tempo juntos.
Se você vive um romance secreto, e algo impede um encontro hoje, desapegue-se da data e não abra a porta para a solidão! Presentes podem ser comprados e enviados pela internet; beijos e abraços podem ser sonhados até o próximo “oi, amor!”. Cabe a nós a realização de nossos desejos. Ou colocamos um ponto final, ou digitamos reticências!
Afinal, muito se quer “amor de dentro pra fora, amor de qualquer jeito” (Jota Quest, 2003), neste mundo onde, cada vez mais, “all we need is love” (Beatles, 1967).
Usufruir do sábado ou ignorar a data por completo são boas opções para hoje; nunca despreze o dia de vida. Fossa pode ter sua hora, mas não é legal se acabar na “mesa do bar” com o atarefado garçom a “escutar centenas de casos de amor”, como chorosamente cantava o saudoso Reginaldo Rossi.
Esperamos que se empolgue com algumas de nossas sugestões. Portanto, guarde a torrente de lágrimas e aproveite o momento para estar consigo mesmo, conhecer-se melhor, e curtir algo que faria somente acompanhado. E conte para nós o que aprontou neste dia. Estamos super curiosos para saber! Vai embora, solidão! Ame-se!
1- Arrulhos são os sons feitos pelos pombos.