29/06/2021 - Autor: Bea Chagas
“Minha jangada vai sair pro mar/ vou trabalhar (…)/ meus companheiros também vão voltar/ e a Deus do Céu vamos agradecer”… fico pensando se Simão Pedro cantava algo assim, antes de pôr seu barco no mar da Galileia, em Israel. Mas sei que ele era pescador, assim como seu irmão, André. Sim, esse era o ofício de São Pedro, o santo deste dia de festejos juninos, como mencionado na matéria DIA DE SÃO JOÃO. A data, 29 de junho, é uma referência ao martírio e à morte daquele que é considerado o primeiro papa da Igreja Católica.
Será que o pescador, cujo nome dado por Jesus significa PEDRA (Kepha, em aramaico), pensava ser “(…) doce morrer no mar”? Talvez. Pedro, porém, teria atendido à ordem de Jesus e tornou-se Pescador de Homens, deixando a pesca e partindo para pregar o Evangelho (Bíblia Sagrada, Mateus 4:19). Não é surpresa que a barraca da PESCARIA seja uma das atrações mais populares das Festas Juninas!
As celebrações populares aos santos de Junho, entretanto, não se resumem a homenagens de cunho religioso. As festas caipiras são algumas das criações da CULTURA POPULAR. As expressões artísticas de um povo também reúnem o folclore, as músicas, o artesanato e a literatura, com elementos associados às linguagens orais, visuais e/ou escritas. Como tal, fazem parte de nossa herança cultural, vinculadas à social.
A cultura popular brasileira é composta por mitos, lendas e muitas tradições do país. Todas essas manifestações artísticas populares carregam traços da nossa história e da miscigenação cultural, em especial, a indígena, a portuguesa e a africana. O tempero tropical aquece nosso símbolos e práticas sociais, com a interação de crenças e costumes populares. Uma festa de letras, sons e cores!
São exemplos do vasto conteúdo da CULTURA POPULAR:
Pesca e música sempre foram boas parceiras. O mar pede música; o rio e a lagoa também. Por isso, fizemos essa pequena seleção em formato de playlist, que vai das pescadas nos mares, passa pelos igarapés, até as velhas pescarias na beira do rio ou das represas do caipira.
CANÇÃO DA PARTIDA (SUÍTE DO PESCADOR) – Dorival Caymmi, EU PESCADOR – Milton Nascimento, A VIDA DE PESCADOR – Daniel, O PESCADOR – Tim Maia, CANÇÃO DO PESCADOR – Délcio Tavares, PESCARIA (CANOEIRO) – Dorival Caymmi, PESCADOR – Daparte, Zé Ibarra, PESCARIA – Ronaldo Viola e Praiano, A PESCARIA – Erasmo Carlos e PESCADOR PESCADOR – Marco André.
Piadas não deviam fazer parte da conversa de Pedro no barco, tampouco sobre o santo, como líder da Igreja Cristã Primitiva. Mas sobre pescadores há muitas, principalmente histórias contadas por eles. Pescadores, talvez inspirados pela passagem de Jonas na barriga da baleia, são muito criativos no relato de casos e causos. As histórias de cunho cômico são as mais populares. Vamos ver algumas?
História de pescador pode até ser premiada, se for bem contada, ou nesse caso, escrita. Esse é o caso de uma das histórias semifinalistas em uma olimpíada de língua portuguesa com a participação de um aluno de Serra Branca / PB. Esse é um bom exemplo desses causos possíveis, que ficam entre a verdade hilária e curiosa ou a mentira, que é bastante possível. Segue um trecho e para ver a história completa, só clicar aqui.
História de pescador
— Queria que me falasse sobre você. – respondi — Me conte uma história sua.
Gean Fabrício de Araújo Motta
— Está bem, vamos lá. Eu sou aposentado há tempos, e venho para o mar todo dia. Eu amo o mar, essa imensidão azul…
— Mas e os peixes? – interrompi — O que o senhor pesca?
— Nada!
— Como assim, nada?
— Não pesco nada!
Eu achei muito estranho. Como ele não pescava nada? E a vara de pescar? E a rede que estava no barco? Decidi esclarecer os fatos.
— Se o senhor não pesca nada, por que vem até aqui trazendo tanto peso? O senhor não está na idade de passar o dia remando, e pra nada!
— Meu jovem, nada mais devo a esta vida. O tanto que trabalhei, o tanto que lutei… Eu sempre quis a minha vida, no mar.
— Mas e a vara de pescar? E a rede? E as caixas?
— Meu filho coloca essas coisas achando que venho pescar. Ele nunca me deixaria vir até aqui para fazer nada.
— Mas ele não suspeita do fato de você voltar para casa sem nenhum peixe?
— Só porque não pesco não quer dizer que deixe de levar a “pesca” para casa. Eu compro dois ou três todo dia. Ele acha que eu que peguei. Foi bom conversar com você. Até logo.
Um velho homem vai pescar e o tempo vai passando e nada, nem um peixinho para amostra. Entretanto chega um homem estranho pronto para pescar e coloca-se uns metros mais à frente.
Saca a vara de pesca e, segundos depois, um enorme peixão já vinha agarrado à linha. Logo em seguida, outro e outro e mais outro… Espantado, ainda com o cesto vazio, o senhor não resiste e pergunta:
– Olá! Desculpa, mas qual é o seu segredo para pescar tanto em tão pouco tempo?
– Dam gue ze bamguer as nhguinhogas guengues… – responde o homem de forma estranha.
– Desculpe? – pergunta o senhor.
Então, diz novamente o homem estranho:
– Dam gue ze bamguer as nhguinhogas guengues.
Sem perceber, o senhor volta a perguntar ainda confuso:
– Desculpe, se importa de repetir?
– Dam gue ze bamguer as nhguinhogas guengues! – repete o homem pela terceira vez.
Novamente o senhor:
– Vai-me desculpar, mas não consigo entender nada do que está dizendo…
O estranho homem abre a boca e cospe para a mão um monte de minhocas e diz:
– Tem de se manter as minhocas quentes…
E existem ainda aquelas que só é possível de se acreditar se forem vistas ou presenciadas. Então, dê uma olhadinha nessa e acredite se quiser!
São Pedro é o Santo padroeiro dos pescadores porque era pescador, mas também dos viúvos e viúvas, porque era viúvo, e dos porteiros, uma vez que Cristo o confiou a chave do reino dos céus. Será que ele irá nos recepcionar quando chegarmos, contando que vamos para lá?
Se você nunca teve contato com a cultura pesqueira, fica nossa dica para buscar conhecer mais dessa que é sustento de muitos, além de prática esportiva e momento de lazer para os amantes das águas e do sossego. Se você gostou ou tem alguma história de pescador para nos contar, fique a vontade. Vamos adorar compartilhar sua história por aqui. Bons tempos e boa pescaria, com a benção de São Pedro!