19/08/2021 - Autor: Flávio Trevezani
Quem nunca se deparou com um grupo praticando ciclismo, com pessoas altamente paramentadas com roupas justas, shorts com acolchoamento na parte do assento, capacetes e bicicletas que custam o valor de um carro popular, ou muitas vezes até mais; todos pedalando juntos às margens de uma rodovia? Pois é, andar de bicicleta sempre foi uma prática comum para a população brasileira e mundial, mas há alguns anos, o passeio de bicicleta ou uso dela como meio de transporte passou a ser usado como prática esportiva de forma bem mais organizada e profissional. E essa prática tem ganhado novos adeptos cada dia mais e se popularizado.
Com isso, aquelas velhas bicicletas monarks que tinham os belos selins ornados com franjas, que alguns de nossos avós usavam, geralmente com uma caixinha presa por elásticos na garupa, usadas para ir para o trabalho ou para a feira, já não remontam à realidade dos ciclistas de hoje.
Desde a bicicleta do barão alemão Karl von Drais, de 1817, considerada a pioneira das bicicletas, que nem sequer possuía pedais, até as de liga leve e altamente velozes de hoje, muitos modelos já foram desenhados, fabricados e comercializados.
Após a invenção da “máquina corredora”, como foi batizada a invenção do barão, chamada de Draisine ou velocípede pela imprensa da época, a bicicleta foi ganhando novos modelos e recursos.
Elas receberam pedais no modelo do inventor escocês Kirkpatrick MacMillan ou do inglês Thomas McCall, que disputam o mérito de inventores dos pedais da bicicleta. Esse meio de transporte sustentável e ecológico evoluiu e nunca parou de evoluir.
Já existiram modelo com pedais anexos a roda de trás por meio de alavancas, com pedais nas rodas da frente ligadas diretamente a seu eixo, com assento duplo paralelo, para pessoas pedalarem juntas, lado a lado. As mudanças continuaram ocorrendo até chegar na curiosa bicicleta de roda alta, a Ariel, de James Starley. De uma invenção geniosa a um meio de transporte popular, as bicicletas, que eram feitas na maioria de suas partes de madeira no principio de sua criação, começaram a receber cada vez mais partes metálicas, até que a Ariel, a primeira bicicleta de roda alta, foi feita completamente de metal. Com o avanço da siderurgia, as bicicletas passaram a ser feitas completamente de material metálico, como aço e ferro, e isso fez com sua produção pudesse ser ainda mais escalar.
Desde então a evolução não parou. Assentos mais confortáveis, mais aerodinâmicas, freios, uso das catracas e correntes como conexão aos pedais, com amortecedores, sistema de marchas, materiais mais leves e resistentes, entre tantos outros. Até que finalmente chagamos nos modelos modernos que conhecemos atualmente, se é que realmente conhecemos todos os modelos e tecnologias existentes desses veículos propulsionados à tração humana.
A bicicleta até pouco tempo era associada a brinquedo infanto-juvenil, tanto que era um dos principais pedidos de presente no Natal ou aniversário feito por crianças e jovens. Antes, ou paralelo a isso, a bicicleta já era um instrumento de trabalho para muitos. Nesse caso, um meio de transporte para diversas pessoas que precisavam se deslocar a distâncias consideráveis e não possuíam outra forma de se locomover. Hoje, ela ainda é um veículo mais acessível e uma ferramenta bastante usada, seja por opção mais saudável ou por falta de poder aquisitivo para um transporte motorizado.
Mas com a evolução industrial e tecnológica, o aumento de pessoas com sobrepeso e obesidade aumentou. Isso se deu por diversos fatores, sendo um deles a mudança dos processos de trabalho. Com a mecanização dos processos industriais e manuais, o esforço físico começou a ser reduzido e auxiliado por máquinas e equipamentos. Passamos a ter trabalhos que exigiam menos esforço físico, logo, a gastar menos energia e ganhar mais peso. Assim as práticas esportivas saíram do status de “coisa de nobre” ou “coisa de narcisistas” lá nos meados do século passado, passando a ser uma necessidade para saúde geral da população, sem exceções.
Nesse período de popularização das práticas esportivas, o ciclismo já era um esporte com competições concorridas e acompanhadas por uma ampla fatia de público, tanto que é um dos esportes olímpicos desde o retorno dos jogos em 1894 (início dos jogos olímpicos modernos). Mas essa prática esportiva sobre duas rodas começou a se popularizar recentemente e o ciclismo foi ganhando cada vez mais adeptos nos últimos anos. E as bicicletas, ficando cada dia mais modernas.
Se acha que ciclismo é somente subir em cima de uma bicicleta cara com roupas coladas e sair pedalando quilômetros postando fotos fantásticas em lugares belíssimos, pois bem, não é somente isso não.
Praticar ciclismo tem uma série de pequenos critérios a serem considerados.
Antes de decidir qual bicicleta comprar e todo o resto que vem junto com essa decisão, é preciso primeiro escolher a modalidade a ser praticada. As mais populares modalidades de ciclismo praticadas hoje são: mountain-bike, speed ou road, urbano e cicloturismo. Enquanto uma modalidade é feita para transitar em terreno acidentado e de relevo mais inclinado (mountain-bike), outras visam velocidade (speed ou road) ou conforto (urbano). Já o cicloturismo mescla características de todos os três anteriores, visando o fato de que quem pratica cicloturismo percorre vários quilômetros e terrenos variados.
Por isso, se ainda não tem ideia de qual modalidade irá praticar, considere o local onde mora, qual é a modalidade mais praticada na sua região (porque sim! Você vai entrar para o clã dos ciclistas, sem sombra de dúvidas) e seu condicionamento físico a princípio. Se está em perímetro urbano, sugerimos arriscar com a modalidade urbana, assim, ganhando gosto e experiência, você poderá migrar para outra modalidade conforme preferir.
A parte principal e mais importante para praticar ciclismo, obviamente, é a bicicleta. A escolha do modelo vai fazer toda diferença no momento da prática. As bicicletas são compostas por vários componentes e um dos mais importantes é o quadro. O material do quadro afeta no peso e resistência da bicicleta na hora de ser usada, além de conectar a maioria das outras partes. Os materiais dos quadros das bicicletas mais modernas e preparadas para a prática do ciclismo são mais leves e resistentes, como alumínio, aço cromo-molibdênio, fibra de carbono ou titânio. Isso afeta o valor comparado a bicicletas juvenis, voltadas apenas para lazer das crianças. Além do quadro, existem fatores como suspensão, selim e pedais anatômicos, rodas com aros resistentes, pneus feitos para terrenos acidentados, asfalto ou misto, guidão, freios, marchas, entre outros.
A dica para quem está começando é escolher uma bicicleta mais básica e a partir daí, começar a evoluir. Mas calma que iremos falar sobre a aquisição mais à frente.
Não ache que os ciclistas usam aquelas roupas com cara de corredores profissionais para se exibirem não. Se observar bem, elas sempre são coloridas ou com faixas luminescentes, exatamente para ficarem em destaque enquanto transitam, muitas vezes à margem de rodovias. Além disso, existe o fator transpiração, proteção solar, impermeabilidade, aerodinâmica e a proteção extra em caso de quedas.
As camisetas podem possuir bolsos na parte posterior, das costas, que servem como suporte para carregar bombas de ar, lanches, água, protetor solar, chaves, entre outros. Isso torna a mobilidade um pouco melhor que mochilas soltas sacudindo ou cheias demais. As bermudas, podendo ser também os bretelles, que são espécies de bermudas com suspensórios ou macacões, possuem um estofamento na parte do assento, o que contribui para o conforto e evita dores no quadril, ou no “fundilho”, se é que me entendem, fazendo toda diferença na hora de pedalar e no pós-pedalada.
Não só pela aerodinâmica, as roupas justas evitam incidentes como prender parte da roupa na corrente ou raio da bicicleta, ou agarrar em galhos, caso esteja pedalando em regiões rurais ou de vegetação mais fechada.
Tem a bicicleta e está com a roupa, agora já pode sair pedalando, certo? Tecnicamente sim, mas ainda faltam alguns detalhes.
O capacete é fundamental e indispensável, ainda mais se considerar o local onde irá praticar, a velocidade e o tipo de solo e relevo. Além da proteção para a cabeça, devemos sempre lembrar dos sapatos fechados (tênis de preferência) que tenham boa aderência tanto para apoiar nos pedais, quanto no auxílio em paradas emergenciais. Meias longas podem te ajudar a proteger em caso de quedas leves e vegetação rasteira das trilhas, caso não esteja usando calças. Luvas também são excelentes pedidas, uma vez que acabamos segurando com bastante firmeza, principalmente em terrenos acidentados, aos punhos do guidão. Uso de luvas ajuda a ter melhor aderência, evitar maiores danos em caso de queda com apoio das mãos, além de evitar calos, dependendo da modalidade praticada e também, da intensidade da prática.
Esses itens poderiam, talvez, entrar na sessão acessórios, mas vamos separar bem as coisas. Aqui, temos de lembrar da água, assim como do suporte para essa garrafa e squeeze, que pode ser instalado no quadro da bicicleta. A bomba de ar para encher pneu também é sempre bem vinda, além do kit para furo em pneus. Isso evita que precise depender de carro de suporte em caso de furo ou fique na mão, no caso a pé, empurrando a bike por quilômetros.
E sempre é bom levar um kit de primeiros socorros, com spray antisséptico, curativos e remédio para dor. Mas isso é legal em qualquer saída longa de casa, principalmente ao praticar esportes de intensidade.
A lanterna é obrigatória para bicicletas segundo o Artigo 105 do Código de Trânsito Brasileiro. E caso vá pedalar a noite, como muitos ciclistas, ela é fundamental e indispensável, assim como os refletores de luz para bicicleta, não se esqueça deles.
Agora que já nivelamos o entendimento de quem sabia muito pouco ou quase nada, é hora de começarmos a calcular os custos para praticar esse esporte.
Como falamos, valores podem variar significativamente. Se você nunca andou de bicicleta ou somente andou numa quando criança ou adolescente, a melhor pedida é comprar uma bicicleta básica, porém que aguente o tranco da prática constante.
Existem modelos que são resistentes, possuem alguns componentes que melhoram a prática da pedalada, mas ainda não são as bikes “top de linha” que muitos dos ciclistas que você vai esbarrar terão.
A melhor pedida são as bikes urbanas, gravel (que desempenham bem tanto no asfalto, quanto em trilhas) ou MTB (Bicicletas para praticar mountain bike), onde a escolha dessa inicial vai variar de acordo com o lugar que pretende praticar e a região que mora.
As faixas de valores podem variar entre R$1.300,00 a R$2.500,00 em média dos modelos mais básicos , dependendo do tipo de bicicleta que você for comprar (isso considerando pesquisa na data dessa publicação – 19/08/2021). Essas vão te atender bem por um bom tempo, até você se sentir mais confiante em investir em uma bicicleta melhor e mais cara. Mas as urbanas estão nas faixas mais baixas e já valem muito para começar.
O conjunto de camiseta e bermuda, ou bretelles, de marcas mais conhecidas varia de R$120,00 a R$250,00, de acordo com a marca. Você encontra na internet valores um pouco mais em conta, mas é importante avaliar a tecnologia do tecido e qualidade do material. Para começar, vale se arriscar valores mais baixos se preferir, mas por segurança, aposte em marcas mais consolidadas no mercado.
Os capacetes de ciclismo você encontra desde a faixa de R$50,00 até R$500,00. Essa variação envolve a tecnologia aplicada, absorção de suor, resistência a impacto, material, entre outros. Vale dar uma pesquisada boa nesse aspecto.
Os demais acessórios e equipamentos vão variar de acordo com o que você procura de recursos. Desde bomba de ar com compressor portátil até bombas simples de mão. Usar garrafas de água térmicas com isolamento de cerâmica e resistência a quedas ou apenas as próprias garrafinhas de água mineral. Esses detalhes ficam a seu critério.
Além de tudo que já falamos, lembre-se do quesito manutenção. Trocar peças pode não sair muito em conta, mas todo equipamento, esportivo ou não, requer manutenção e conserto volta e meia.
Dá para subir na bike e sair pedalando a hora que quiser, mas escolher bem o lugar e praticar em companhia tem peso significativo.
Por questão de constância e velocidade, os ciclistas preferem praticar as margens das rodovias, isso porque a base é asfaltada e regular (geralmente), o que contribui muito para a prática, além de não haver muitos obstáculos ou pedestres que podem atrapalhar o ritmo.
Por isso, praticar em grupo gera maior segurança. Assim como os cardumes de peixes que se juntam e parecem maiores para o predador, um grupo de ciclistas é bem mais facilmente notado por motoristas, dessa forma, o risco de um acidente de atropelamento diminui. Sem falar que um grupo dá suporte e apoio aos demais, em caso de contratempos ou acidentes.
Mesmo assim, vale frisar e lembrar de alguns detalhes:
No demais, boa sorte nesse novo esporte, boa pedalada e não esqueça de contar para gente como foi e tem sido suas experiências.