28/06/2021 - Autor: Flávio Trevezani
No mês do Orgulho gay seria impossível não falarmos sobre a diversidade que é o universo LGBTQIA+. Hoje, o mundo gay permeia mais que apenas a arte, mas já gera renda e movimenta milhões. Está presente no comercial, mídias, internet e começou a sair da zona do “estereótipo” dos personagens ou visões caricatas, para muito mais que isso. Já se pode ver nos filmes, novelas, música, arte, mercado profissional, entre tantos outros, que gay não é mais sinônimo apenas de um homem espalhafatoso e afetado, Lésbica uma mulher masculinizada e com uma coceira nos “testículos imaginários” e travestis prostitutas de beira de asfalto.
O Pink Money movimenta milhões em diversos setores, o consumidor gay está começando a atrair cada vez mais olhares e ser visto como o público queridinho de alguns mercados, como o caso do turismo, esporte, moda, indústria da beleza e eventos de entretenimento. Ficaria impossível falar de tudo em um único artigo, por isso nós repartimos esse tema amplo em dois. Este e “Orgulho LGBTQIA+: do preto-e-branco ao mundo colorido!”. Leia ambos e entenda esse universo fantástico.
E eis que a vida, arte, talento e tudo mais que refere-se a comunidade LGBTQIA + há algum tempo tem ganhado a graça do público e da mídia. Entre cantores, atores, escritores, diretores, cineastas, apresentadores e tantos outros, ser gay no show business não é mais sentença de submundo. Ser assim não força mais a diversos artistas a se trancafiar no armário e tentarem a sorte para encontrar Nárnia, para não morrerem sozinhos e se tornar um esqueleto solitário no armário.
É! Na verdade, na verdade, não se resolveu por completo para ser sincero. A figura do galã ainda é presa a masculinidade heterossexual e alguns acabam tendo que se manter no anonimato da orientação para continuar nos holofotes da mídia. O mesmo se aplica às belas mocinhas indefesas ou membros de grupos artísticos que ainda perpetuam-se um estereótipo voltado ao homem másculo e viril hetero ou a mulher feminina e delicada. Mas graças a nomes célebres como Fred Mercury, Elton John, Ellen Degeneres e RuPaul, que são alguns nomes internacionais que abriram as portas da comunidade na mídia global, as coisas começaram a caminhar das sombras rumo à luz.
Aqui em terras tupiniquins, tivemos e ainda temos grandes nomes como Cássia Eller, Ney Matogrosso, Cazuza, Renato Russo, Rogéria, Roberta Close e Paulo Gustavo, que perdemos recentemente. Esses e tantos outros vieram colocar na mira de todos que ser gay não significava menos, em muitos desses casos, era até mais.
A lista de grandes nomes artísticos não se resume somente aos citados anteriormente. Cantoras como Daniela Mercury, Adriana Calcanhoto, Ana Carolina, Angela Roro, Simone, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Marina Lima, Zizi Possi, entre tantas outras abriram a porta do armário para as novas cantoras. Cantores internacionais como Rick Martin, George Michael, Rob Halford, vocalista da banda de heavy metal Judas Priest, Adam Lambert, Frank Ocean, Sam Smith, Lil Nas X, entre vários outros, também contribuíram de grande forma. Aqui também tivemos e temos cantores nacionais como Lulu Santos, Agnaldo Timóteo, Emílio Santiago, Márcio Victor, Marcelo Augusto, Netinho, entre outros que mostraram que ser gay não diminuía em nada seu talento. Mesmo que alguns tenham levado algum tempo para poder arrombar a porta de seus armários e serem livres como são e amam.
Celebridades como o apresentador e jornalista da CNN Anderson Cooper, o cineasta Pedro Almodovar; o roteirista, autor, escritor, diretor, ator e apresentador Miguel Falabella; o autor de novelas Agnaldo Silva, a âncora Leilane Neubarth, o jornalista Glenn Greenwald, a apresentadora e comentarista esportiva Fernanda Gentil, são exemplos de que Gay não se resume a estereótipos profissionais.
Temos também diversos atores e atrizes como Marcos Nanini, Alice Braga, Camila Pitanga, Nanda costa, Rodrigo Sant’Anna, Laryssa Ayres, Maria Maya, Thalita Carauta, Letícia Lima, Alessandra Maestrini, Bruna Linzmeyer, Luiz Fernando Guimarães, Leonardo Vieira, Tuca Andrada, Silvério Pereira, Nany People, entre tantos outros.
Mas indiscutivelmente hoje o cenário se encontra recheado de nomes que tornaram o universo LGBTQIA+ ainda mais explosivo, principalmente na música. Pabllo Vittar, Glória Grove, Aretuza Lovi, Kika Boom, Lia Clark, Kaya Conky, são algumas das Drags cantoras brasileiras que tem arrasado nos palcos e nas mídias. Sem falar em Majur, Jaloo, Johnny Hooker, Getúlio Abelha que são o talento em forma de cores e representação livre. Ainda temos novos nomes como Mateus Carrilho, Tyaro, Silva, Juccas, Jão, Mustta, Thiago Pethit, entre diversos outros talentos que surgem a cada dia representando a classe gay. No time das cantoras temos Aíla, Ana Vilela, Ludmilla, Letrux, Carol Biazin, Priscila Tossan, Maria Gadu, Ellen Oléria, Luiza Possi, Anitta, entre outras que despontam com seu talento. Ainda no time das mulheres, temos as lindíssimas mulheres, que vale com orgulho falar que são trans, na música brasileira: Assucena e Raquel, de As Baías, Liniker, A Maia, Lin da quebrada, Urias, Pepita, entre outras talentosíssimas que compõem essa representatividade com nível altíssimo.
Inspirado nesse universo musical, nós criamos a nossa segunda playlist e a primeira relativa aos nossos selos amigáveis. A playlist do selo Orgulho, voltado ao público pertencente ao grupo LGBTQIA+ já está disponível no Spotify e Youtube. Deu bastante trabalho ter de reunir somente 50 músicas para representar e levar a imersão de todos no universo LGBTQIA+, mas fizemos nossa seleção indo dos sucessos atuais, novos nomes da música e aos grandes nomes da música LGBTQIA+ no Brasil. Vale a pena conferir, fazendo parte do vale ou avistando de longe!
Saindo do show business e entrando nos holofotes por outros motivos, grandes nomes hoje vem ganhando espaço além da mídia, que é o caso do mundo empresarial e político. O CEO da Apple, Tim Cook; Peter Thiel, um dos maiores investidores do Vale do Silício e criador do paypal; Rich Ross, presidente dos estúdios disney; Barry Diller, fundador da Fox; David Geffen, Fundador do estúdio DreamWorks; Jann Wenner, fundador da revista Rolling Stone; Robert Hanson, CEO da Levis; Megan Smith, vice-presidente de desenvolvimento de negócios do Google; Renata Afonso, CEO da CNN. No campo político temos nomes que são ou já foram atuantes na política, como Xavier Bettel, Primeiro-ministro de Luxemburgo e o primeiro lider da união europeia assumidamente gay; Camille Cabral, primeira transexual eleita na França e Franco-brasileira; Lori Lightfoot, eleita prefeita de Chicago é a primeira prefeita negra e lésbica dos USA; O prefeito da cidade de South Bend, em Indiana, Pete Buttigieg que chegou a se lançar como possível candidato a presidência americana pelos democratas; Kátia Tapety, que foi a primeira politica transexual brasileira a se eleger no país; David Miranda, deputado federal do Rio de Janeiro; Erika Hilton, codeputada estadual do Estado de São Paulo; Érica Malunguinho, a primeira deputada Trans eleita no Brasil; Jean Willys, forte defensor das causas LGBTQIA+; Edgar Souza, o primeiro prefeito assumidamente homossexual do Brasil da cidade do interior de São Paulo, Lins; Fabiano contarato, Senador capixaba; Duda Salabert, a primeira vereadora trans eleita na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. É meus queridos, queridas e querides, a lista é longa e ainda existem influenciadores, esportistas, escritores, humoristas, enfim, o mundo é com certeza uma boa parcela “GAY” e isso faz dele um lugar bem mais bonito e diverso.
E não teria como falar da arte gay sem falar do rico vocabulário que nasceu, evolui e se difunde na comunidade LGBTQIA+ até os dias de hoje: o Pajubá ou Bajubá. Esse vocabulário é muito mais que apenas gírias que gays e outros membros da comunidade passaram a usar entre si, como forma de não serem entendidos pelos demais.
O Pajubá se originou na junção de termos e palavras dos grupos étnico-linguísticos nagô e iorubá – origem africana trazida junto aos povos escravizados – e difundidos na religiões afro-brasileiras.
Que se faça conhecido, que as religiões afro-brasileiras sempre aceitaram e receberam bem a diversidade LGBTQIA+, logo, levar dos terreiros as ruas esse vocábulo, adaptando-o, tornava a comunicação entre essa classe oprimida mais fluída e com menos riscos.
“Mona, tira o olho do meu ocó, que esse corre é meu e o aqué é odara!”
Não entendeu? Numa tradução livre seria algo como: “Viado, tira o olho desse homem, que esse serviço/atendimento é meu e o dinheiro que vou ganhar é maravilhoso!”. Assim as travestis se comunicavam entre si, sem que os demais à volta entendessem e as afetasse de alguma forma.
Com a popularização cultural, claro que o vocabulário gay caiu na graça de todos da comunidade e logo, já estava saindo do vale. Hoje os jovens, homossexuais ou não, já começam a se apossar de gírias do pajubá, muitas vezes sem imaginar sua origem.
A pluralidade da Porankatu existe porque eu, Flávio, e Cledson Wagner, outro fundador e meu eterno namorado, no qual estamos juntos a quase sete anos, ousamos tornar um parte da vida das pessoas mais fácil, acessível, democrática e inclusiva: a diversão.
A Porankatu não é uma empresa que visa diversidade apenas na sexualidade, mas em toda forma de ser e viver. Começamos a notar que a dor de encontrar o que fazer ia muito além da dificuldade de encontrar um local de referência ou um processo mais simples e direto que pesquisar nos buscadores da internet. Se para pessoas sem nenhuma limitação, características ou preferência fora dos padrões, já é difícil, imagina para quem está fora desse tal “padrão”.
Posicionar-se nesse mês para a gente não é uma forma de ganhar pontos com a comunidade ou captar o Pink Money, vai além, é tentar espalhar ao máximo as belezas e necessidades da diversidade.
Que esse mês de conscientização se estenda muito além de junho e que os assustadores dados que mostram a triste realidade que a ignorância e o preconceito promovem com ataques, violência e mortes contra LGBTQIA+ desapareçam de nossas estatísticas.
Todos por um mundo com mais respeito à diversidade sempre!